QUEM SOU? DE ONDE VENHO? PARA ONDE VOU?
Aceitávamos os fatos da natureza. Não cogitávamos de vida eterna nem de reencarnação. Ficávamos tristes por algum tempo, mas depois íamos voltando aos nossos afazeres e à nossa maneira de ser, o mais rápido possível. E logo estávamos novamente felizes. Além do mais, havia as outras crianças para cuidar.
Por outro lado, os mais velhos iam cuidando dos irmãos mais novos. Dessa forma, as tarefas eram compartilhadas e não sobrecarregavam os pais.
A essa altura, tomamos consciência de que já não éramos jovens para ter outros filhos.Tínhamos bem mais de 20 a-nos de idade e certamente iríamos morrer antes de criá-los. Então, passamos a nos dedicar quase que exclusivamente ao serviço do Mestre e à aquisição do Conhecimento.
Devido à morte do nosso filho, o interesse que manifestávamos era iminentemente pelos processos curativos. Inconscientemente, estávamos interessados em salvar a vida de al-guma outra criança que eventualmente fosse picada por ser-pente.
Contudo, o Mestre, pacientemente, explicou-nos que havia coisas mais importantes que a medicina e que esta era muito falha. Que a verdadeira sabedoria não consistia em, meramente, curar uma enfermidade ou tentar salvar o corpo do seu destino inexorável.
– Todos temos que morrer de alguma coisa – disse-nos. Podemos evitar aquilo que depender de nós, mas há outras ocorrências que não dependem da nossa vontade ou dos nos-sos conhecimentos e esforços. Vicissitudes ocorrem o tempo todo e há bem pouco o que os seres humanos possam fazer para furtar-se a elas. Então, a solução está numa dimensão mais elevada. Não está em conseguir sempre evitá-las, mas em como encará-las e como reagir a elas. Não se trata de a-ceitá-las passivamente, mas de localizar sua consciência num patamar em que possamos enxergar todas essas coisas do alto, e não mais da nossa perspectiva pessoal, da nossa pequenez egóica.
Confesso que não compreendi nada. Do pouco que entendi, tive a petulância de discordar. Afinal, tratava-se da minha vida, da minha família, dos meus filhos, da minha dor...
O Mestre passou alguns meses ensinando-nos a medicina dos antigos. A cada erva, raiz, seiva, resina, folha, casca de árvore, o Mestre incutia conceitos filosóficos. A cada em-plastro, compressa, infusão, cocção, ele insuflava noções in-dutoras ao autoconhecimento. Assim, pouco a pouco, foi-nos direcionando para uma área de sabedoria na qual lhe interessava mais que nos aprofundássemos e foi-nos afastando do cultivo utilitário das terapias. Em pouco tempo estávamos liberados dos nossos mundinhos e começávamos a divisar um universo fascinante de concepções novas, de per-cepções extra-sensoriais e de estados de consciência superiores, dadores de uma lucidez indescritível. A isso dedicamos toda a nossa vida, bem como a retransmitir esse Conhe-cimento.
Texto retirado do livro Eu me lembro escritor DeRose
Um comentário:
lindo o texto... acho que conheço o início... =)
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